terça-feira, 12 de maio de 2009

Ruilhe terá museu etnográfico para guardar memória da antiga lavoura junto das novas gerações



Ruilhe terá museu etnográfico para guardar memória da antiga lavoura junto das novas gerações

A Junta de Freguesia de Ruilhe quer evitar que a nova geração de habitantes fique arredada da memória da antiga lavoura e do valor das suas técnicas e tecnologias rudimentares. Está, por isso, apostada em criar um pequeno museu etnográfico com “sentido revivalista”, apesar de lhe atribuir uma função didáctica, já que considera de acrescido interesse proporcionar às escolas uma “ferramenta” de apoio para melhor compreensão de antigos modos de produção.
A componente principal será a exposição permanente de alfaias agrícolas, embora seja também propósito da autarquia enriquecer o espólio com outros utensílios ou equipamentos de actividades que estiveram associadas ao quotidiano da lavoura. A costura constitui uma das áreas que se enquadram na componente principal, adianta o presidente da Junta, António Araújo, apelando aos habitantes para “ajudar a enriquecer o espólio com a entrega de peças de lavoura ou outras”, que possam guardar em casa.
Para a instalação desta unidade museológica, a autarquia escolheu os baixos da Escola EB 1 de Ruilhe, após obras de ampliação, que permitiram obter um espaço com 180 metros quadrados.
“Será um museu para crescer, pois pretendemos alargá – lo a outros âmbitos temáticos. Para já, estamos interessados em expor também antigas máquinas de escrever”, esclarece o presidente da Junta de Ruilhe.
Entre o material já recolhido está uma malhadeira manual. “É uma peça difícil de encontrar. Eu até julgava que já não existisse. Estava na chamada Quinta do Doutor Dentista. Foi oferecida pelo actual proprietário, André Coolans, que é belga”, adianta o autarca.
Um arado, que era puxado por bois, uma dorna (grande vasilha onde se calcava as uvas) e um semeador (aparelho metálico manipulado pelo homem ou por canga puxada por bois) são outras das peças que se incluem neste primeiro espólio. A Junta de Freguesia deseja também obter peças que tenham pertencido a moinhos movidos a água. “A freguesia até tinha vários moinhos junto ao rio Este, mas não conseguimos recolher quaisquer peças ou utensílios que lhes pertencessem. Há cerca de 40 anos ainda havia cá três moinhos em funcionamento, mas também foram desactivados: um está hoje transformado numa vivenda, outro permanece na posse de um herdeiro do antigo moleiro, e outro, ainda, acabou por ser vendido”, recorda António Araújo.
Ruilhe deixou de produzir milho para moagem, destinada ao fabrico de pão: o que produz agora é apenas para alimentar gado.
“Temos dois habitantes que vivem exclusivamente da agro – pecuária: um faz criação de gado para a produção de carne, o outro dedica-se à produção de leite”, explica António Araújo.
Um quarto da área de Ruílhe ainda é ocupado pela actividade agrícola, mas o futuro da freguesia já deixou de ser, há muito, a agricultura. O destino dos jovens passou a ser os centros urbanos, após o ensino secundário. A localidade dispõe de uma escola de referência pela qualidade de ensino, o Externato Infante D. Henrique, que serve também a região envolvente, mas as oportunidades de emprego só as encontram agora nas grandes cidades. ”O estímulo é pouco para serem tentados a enveredar por actividades agrícolas ou agro - pecuárias”, sentencia o presidente da Junta, António Araújo.