sexta-feira, 15 de maio de 2009

Confrarias S. Torcato

Fotos Sérgio leitão






A 20 de Maio de 1637 os povos de S. Torcato e das freguesias circunvizinhas foram sobressaltados com a visita inesperada do então arcebispo de Braga, D. Sebastião de Matos e Noronha. O prelado só lá tinha ido “com sua gente” para ver o santo, mas a população convenceu-se que o queriam levar para a Sé de Braga. Tocaram os sinos a rebate, juntou – se povo para evitar a suposta tentativa de trasladação para Braga. Discutiram-se razões de parte a parte, mas a população insistiu nos seus direitos, dizendo, por fim, ao prelado: “Senhor! Se quereis levar o Santo para a terra de Cristãos, nós também somos cristãos. Deus e o Santo quiseram honrar esta freguesia, consenti vós também que ela possua este tesouro e esta glória”.



O arcebispo não pôde, por isso, ver o Santo, ou o que restasse de seu corpo, nem muito menos levá – lo, se era essa a sua intenção, e retirou – se “muito desgostoso”. Até aquele dia, tinham passado seis séculos sobre a trasladação do corpo de S. Torcato da primitiva ermida para o mosteiro da freguesia, onde permanecera, desde então, num túmulo que não estaria tão a salvo quanto isso. Temendo qualquer tentativa de devassa ou apropriação, o povo revezou – se, dia e noite, na guarda do túmulo e até se colectou para reforçar a sua segurança. “Para isso fez de pedra, e com alguma arquitectura, um magnífico túmulo, dentro do qual meteu o antigo e o rodeou com grandes mais fortes” (relato de Domingos Soledade Sillos). A obra concluiu – se a 14 de Julho desse ano: antes de tudo ficar bem fechado, o túmulo foi aberto diante de autoridades eclesiásticas e civis e de muito povo da freguesia “e fora dela”. Segundo o relato de Domingos Soledade, com base no auto da diligência, “acharam o Santo inteiro em carne, sem lesão alguma, mais que no pescoço, onde tinha um buraco que denotava ser o golpe (…). Tudo o mais estava inteiro: a mão esquerda assentava sobre o peito e a direita sobre ela; os olhos cheios e compostos; era calvo, o rosto grande; era grosso e os joelhos estavam encolhidos. (…) Os braços eram grossos. Do lado esquerdo tinha um báculo de pau, que era redondo até ao meio (…)”. Depois desse dia e até 30 de Junho de 1805 o túmulo permanecera fechado… Pedro Leitão.