domingo, 17 de maio de 2009

Confraria de Sta. Marta das cortiças

ESPORÕES CONCORRENTE em cima


Eram duas santas martas numa só montanha. No dia da grande romaria, a “parte de leão” das esmolas ia cair à paróquia de Esporões: os romeiros não ficavam pelo meio do monte da… Falperra. Subiam - no bem ao cimo para venerar a única Santa Marta que conheciam, mas hoje chamada Santa Marta das Cortiças (o abade de Esporões em 1758 só refere a ermida de… Santa Marta no alto do monte, administrada pela paróquia, sinal de que, por essa época, a designação de Monte de Santa Marta das Cortiças ainda não era usada). A “concorrência” dos párocos de Esporões com o bom proveito que tiravam da sua Santa Marta desagradava, porém, aos frades do antigo convento da Falperra. Pelo menos no século XVIII, já tinham razões para levar a mal que a paróquia de Esporões “recolhesse as numerosos esmolas” que os milhares de fiéis deixavam na capelinha hoje chamada de Santa Marta das Cortiças. De resto, como se tratava de uma romaria muita concorrida, tal como hoje ainda acontece, os frades consideravam – se prejudicados (informação de Albano Belino, na sua obra “Arqueologia Cristã”). Por isso... Pedro Leitão fotos sérgio Leitão









fotos Sérgio Leitão

sexta-feira, 15 de maio de 2009

confraria do alivio




Foi o fundador do Santuário do Alívio, Soutelo, em Vila Verde, mas afinal o padre Francisco Xavier Leite Fragoa fica também na história pelas suas informações preciosas para a historiografia local É ele quem fornece, em 1758, os pormenores de maior interesse sobre o vale do Cávado, nas suas respostas aos inquéritos paroquiais de D. José I. Em meados do século XVIII, o padre Francisco Xavier Fragoa já era pároco em Soutelo: por ele ficamos a saber que o Cávado, então também conhecido por Cadavo, recebia o nome de Rio Prado, a partir do “Vão do Bico”, onde se junta ao rio Homem. E Rio Prado lhe chamavam por esses tempos as populações ribeirinhas desde Soutelo até à foz do… Cávado, em Esposende, assim o descrevia à época o padre Fragoa. Até à sua cura milagrosa de um mal que o deixara às portas da morte, em 1790, o sacerdote foi sempre abade em Soutelo, tendo permanecido no cargo ainda mais oito anos. As suas respostas aos inquéritos paroquiais esclarecem alguns aspectos ainda obscuros da história local. referem, por exemplo, que as audiências da Câmara do antigo concelho de Larim, de que Soutelo era cabeça, se faziam “às quartas - feiras” no Lugar de Pontelo e não no de Larim, que dava nome ao concelho. Reza, porém, a história do padre Fragoa que a Santíssima Virgem lhe apareceu no quarto, estava ele demasiado enfermo e já desenganado pelos médicos. O seu velho criado apenas testemunhara uma “luz muito brilhante” que escapava por debaixo da porta, mas o doente garantiu - lhe, momentos depois, que vira Nossa Senhora, sossegando – o por ter sido inquietado com a estranha claridade. Em “momento de suprema angústia”, o sacerdote dirigiu à Virgem “preces mais fervorosas, prometendo, se o curasse, erguer um templo em sua honra” (relato do jornalista Leonídio Abreu em meados do século XX, que transcrevemos em parte na página…).



O padre Fragoa foi atendido na sua súplica: viu – se curado em pouco tempo e apressou – se a cumprir a promessa, erguendo uma capela que deu origem a um grande santuário, o de Nossa Senhora do Alívio. Corria o ano de 1790: nessa maré, o sacerdote já era abade de S. Miguel de Soutelo há pelo menos 35 ou 40 anos (Fragoa teria cerca de 30 anos quando foi paroquiar Soutelo e mais de 60 à data da sua cura milagrosa). Seja como for, a historiografia local nunca pôde precisar desde que data paroquiava ele aquela freguesia: no entanto, podemos garantir que o padre Francisco Xavier Fragoa (e não Fragoas) já exercia as funções de Abade de Soutelo em 1758: é quase certo que, nessa altura, já lá estivesse a residir como pároco há alguns anos. Até à sua cura milagrosa em 1790, o sacerdote vivera em Soutelo sem dar nas vistas, embora fosse admirado entre os paroquianos pela sua conduta de homem bondoso.


(“nunca à sua porta se batia em vão”…). Nas suas respostas aos inquéritos paroquiais em 1758, o padre Fragoa é bastante descritivo sobre a geografia da região: quando alude ao Cávado, que designa ainda por Cadavo (nome que lhe dão outros párocos da época), Fragoa refere que outrora se chamava Rio Celando. “Nasce para a parte do Nascente no Reino de Galiza, perto de Vilar de Per – dizes (…)”, descreve (omite a serra do Larouco, onde nasce o Cávado, provavelmente porque seria à época território do Reino de Galiza).


Adianta ainda que no “Vão do Bico”, onde se juntam o Cávado e o Homem, havia por esse tempo (…) uma passagem de barco, que desembarca na mesma freguesia, na de Palmeira e nesta de Soutelo (…) com muito concurso de gente da cidade de Braga e outras partes para as vilas da Pica, Barca, Arcos e Reino de Galiza”. (ver peça na pagina… com excertos das respostas de Fragoa aos inquéritos paroquiais em 1758). Pedro leitão


Fotos sérgio Leitão


Confrarias S. Torcato

Fotos Sérgio leitão






A 20 de Maio de 1637 os povos de S. Torcato e das freguesias circunvizinhas foram sobressaltados com a visita inesperada do então arcebispo de Braga, D. Sebastião de Matos e Noronha. O prelado só lá tinha ido “com sua gente” para ver o santo, mas a população convenceu-se que o queriam levar para a Sé de Braga. Tocaram os sinos a rebate, juntou – se povo para evitar a suposta tentativa de trasladação para Braga. Discutiram-se razões de parte a parte, mas a população insistiu nos seus direitos, dizendo, por fim, ao prelado: “Senhor! Se quereis levar o Santo para a terra de Cristãos, nós também somos cristãos. Deus e o Santo quiseram honrar esta freguesia, consenti vós também que ela possua este tesouro e esta glória”.



O arcebispo não pôde, por isso, ver o Santo, ou o que restasse de seu corpo, nem muito menos levá – lo, se era essa a sua intenção, e retirou – se “muito desgostoso”. Até aquele dia, tinham passado seis séculos sobre a trasladação do corpo de S. Torcato da primitiva ermida para o mosteiro da freguesia, onde permanecera, desde então, num túmulo que não estaria tão a salvo quanto isso. Temendo qualquer tentativa de devassa ou apropriação, o povo revezou – se, dia e noite, na guarda do túmulo e até se colectou para reforçar a sua segurança. “Para isso fez de pedra, e com alguma arquitectura, um magnífico túmulo, dentro do qual meteu o antigo e o rodeou com grandes mais fortes” (relato de Domingos Soledade Sillos). A obra concluiu – se a 14 de Julho desse ano: antes de tudo ficar bem fechado, o túmulo foi aberto diante de autoridades eclesiásticas e civis e de muito povo da freguesia “e fora dela”. Segundo o relato de Domingos Soledade, com base no auto da diligência, “acharam o Santo inteiro em carne, sem lesão alguma, mais que no pescoço, onde tinha um buraco que denotava ser o golpe (…). Tudo o mais estava inteiro: a mão esquerda assentava sobre o peito e a direita sobre ela; os olhos cheios e compostos; era calvo, o rosto grande; era grosso e os joelhos estavam encolhidos. (…) Os braços eram grossos. Do lado esquerdo tinha um báculo de pau, que era redondo até ao meio (…)”. Depois desse dia e até 30 de Junho de 1805 o túmulo permanecera fechado… Pedro Leitão.






terça-feira, 12 de maio de 2009

Ruilhe terá museu etnográfico para guardar memória da antiga lavoura junto das novas gerações



Ruilhe terá museu etnográfico para guardar memória da antiga lavoura junto das novas gerações

A Junta de Freguesia de Ruilhe quer evitar que a nova geração de habitantes fique arredada da memória da antiga lavoura e do valor das suas técnicas e tecnologias rudimentares. Está, por isso, apostada em criar um pequeno museu etnográfico com “sentido revivalista”, apesar de lhe atribuir uma função didáctica, já que considera de acrescido interesse proporcionar às escolas uma “ferramenta” de apoio para melhor compreensão de antigos modos de produção.
A componente principal será a exposição permanente de alfaias agrícolas, embora seja também propósito da autarquia enriquecer o espólio com outros utensílios ou equipamentos de actividades que estiveram associadas ao quotidiano da lavoura. A costura constitui uma das áreas que se enquadram na componente principal, adianta o presidente da Junta, António Araújo, apelando aos habitantes para “ajudar a enriquecer o espólio com a entrega de peças de lavoura ou outras”, que possam guardar em casa.
Para a instalação desta unidade museológica, a autarquia escolheu os baixos da Escola EB 1 de Ruilhe, após obras de ampliação, que permitiram obter um espaço com 180 metros quadrados.
“Será um museu para crescer, pois pretendemos alargá – lo a outros âmbitos temáticos. Para já, estamos interessados em expor também antigas máquinas de escrever”, esclarece o presidente da Junta de Ruilhe.
Entre o material já recolhido está uma malhadeira manual. “É uma peça difícil de encontrar. Eu até julgava que já não existisse. Estava na chamada Quinta do Doutor Dentista. Foi oferecida pelo actual proprietário, André Coolans, que é belga”, adianta o autarca.
Um arado, que era puxado por bois, uma dorna (grande vasilha onde se calcava as uvas) e um semeador (aparelho metálico manipulado pelo homem ou por canga puxada por bois) são outras das peças que se incluem neste primeiro espólio. A Junta de Freguesia deseja também obter peças que tenham pertencido a moinhos movidos a água. “A freguesia até tinha vários moinhos junto ao rio Este, mas não conseguimos recolher quaisquer peças ou utensílios que lhes pertencessem. Há cerca de 40 anos ainda havia cá três moinhos em funcionamento, mas também foram desactivados: um está hoje transformado numa vivenda, outro permanece na posse de um herdeiro do antigo moleiro, e outro, ainda, acabou por ser vendido”, recorda António Araújo.
Ruilhe deixou de produzir milho para moagem, destinada ao fabrico de pão: o que produz agora é apenas para alimentar gado.
“Temos dois habitantes que vivem exclusivamente da agro – pecuária: um faz criação de gado para a produção de carne, o outro dedica-se à produção de leite”, explica António Araújo.
Um quarto da área de Ruílhe ainda é ocupado pela actividade agrícola, mas o futuro da freguesia já deixou de ser, há muito, a agricultura. O destino dos jovens passou a ser os centros urbanos, após o ensino secundário. A localidade dispõe de uma escola de referência pela qualidade de ensino, o Externato Infante D. Henrique, que serve também a região envolvente, mas as oportunidades de emprego só as encontram agora nas grandes cidades. ”O estímulo é pouco para serem tentados a enveredar por actividades agrícolas ou agro - pecuárias”, sentencia o presidente da Junta, António Araújo.







S. Pedro de Merelim -Braga

Text S.PEDRO MERELIM OFICIOS primum

A freguesia de S. Pedro de Merelim, em Braga, já ganhou a vida a fazer taxas e a fabricar telhas à mão. As taxas davam – lhe para a “sopa” e as telhas… “bom poder de compra”. Mais tarde, entrou no negócio das feiras e fez algumas fortunas. Os seus feirantes endinheirados deram – lhe fama e prestígio e desenvolveram – na com modernas moradias e novas zonas residenciais, além de terem dado um grande impulso à vida cívica local. Mudaram – se os tempos, mas ficou, ainda assim, a memória desses antigos ofícios, que projectaram a freguesia, e até dos momentos áureos dos seus feirantes: o que resta dela será evocada pela Junta de S. Pedro de Merelim na exposição que preparou para a Feira das Freguesias de Braga, que decorrerá de 30 de Abril a 3 de Maio. Entre outro material alusivo à temática, estarão à vista antigos instrumentos dos ferreiros – taxinhas de S. Pedro de Merelim. Algum desse espólio permaneceu em casas particulares, que, curiosamente, não são habitadas por descendentes de antigos fabricantes de taxas, adianta o presidente da Junta, Nuno Ribeiro.
Há mais de meio século, a actividade do ferreiro – taxinha ocupava 60 por cento da população local. Ainda assim, o ferreiro – taxinha metia – se também a fazer telhas à mão, quando não tinha trabalho, para equilibrar assim os rendimentos: o fabrico de taxistas para tamancos ou de taxas para carros de bois nem sempre chegava para o sustento da família.
Seja como for, havia poucas famílias em S. Pedro de Merelim a dedicarem - se em exclusivo ao fabrico manual de telhas: entre as mais conhecidas estavam as dos “Salgueirinhos”, dos “Loureiros” e do António da Rocha. O negócio manteve – se nas mesmas famílias, durante gerações a fio, até ter desaparecido há cerca meio século. A automatização do fabrico contribuiu para a extinção da actividade em S, Pedro de Merelim, mas a idade avançada dos últimos fabricantes manuais e até a falta de continuadores entre os descendentes apressou - lhes o fim do negócio, que passou a exigir a modernização de meios para ser rentável: a introdução da telha francesa com desenho especial também os afastou do mercado. Enquanto durou, o fabrico manual de telhas deu - lhes dinheiro “e bom dinheiro”, pois “tinham bom poder de compra”,segundo recorda o presidente da Junta de Freguesia.

Tradição Fradelos