segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
trabalho sobre a indústria do papel
Fonte Dos Galos no Rio Este na Freguesia de S. Lazaro.
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S. Lázaro: requalificação do rio Este como oportunidade para retomar o fabrico de papel, a partir dos… trapos
Pedro Leitão (texto)
Retomar o fabrico de papel a partir dos trapos, nas margens do rio Este, em S. Lázaro, recuperando com fins revivalistas ou mesmo económicos uma “indústria” que fez história na freguesia (e em Braga) e tem nela o seu marco pioneiro em Portugal. A concretização de uma iniciativa do género é viável em termos técnicos, pode ser mesmo interessante no contexto da futura requalificação daquela zona ribeirinha e até será desejável pelo seu interesse didáctico e histórico: a freguesia de S. Lázaro é o “berço” do fabrico do papel em Portugal, já que foi nela que se instalaram as primeiras “indústrias” do ramo, durante o século XVI (na primeira metade do século XVIII também lá funcionou uma outra fábrica, mas já com a dimensão de uma manufactura, de que foi sócio - fundador um italiano de Génova, José Maria Ottoni, que só mais tarde se transferiu para a Lousã).
A técnica consistia em moer até à exaustão restos de panos ou roupas velhas para a sua transformação em pasta, com o recurso a antigos moinhos do rio Este, mas já desaparecidos na área ribeirinha de S. Lázaro. Este processo artesanal continua a ser utilizado no nosso país: uma oficina na Guarda ainda o utiliza com fins económicos. Permite obter um tipo de papel que pode ser aproveitado para encomendas postais ou comerciais, pequenas embalagens, envelopes e até blocos de notas: para esta última finalidade não apresenta a qualidade desejável, mas não deixará de representar, mesmo assim, alguma utilidade em termos de optimização de custos em empresas ou escolas para ultrapassarem assim estes tempos de crise. No século XVI, o papel que se fabricava nas margens do rio Este, em S. Lázaro, ainda não apresentava os níveis de perfeição, atingidos na época pelos italianos, já então os maiores fornecedores de papel na Europa. Seja como for, a técnica acabou por ser mais tarde aperfeiçoada em Portugal, com a aplicação dos métodos usados em Itália (a presença em Braga do genovês José Maria Ottoni na primeira metade do século XVIII terá também contribuído para um maior aperfeiçoamento das técnicas e sua difusão em Portugal). Até por isso, a Junta de S. Lázaro considera que a futura requalificação do rio Este poderá constituir a oportunidade ideal para se ponderar a inclusão de um complexo in situ com a memória possível sobre a presença pioneira dessa antiga indústria na zona ribeirinha da freguesia: é mesmo de opinião que se analisem todas as hipóteses de enquadramento desse complexo no projecto de requalificação do rio Este, pelo menos como componente revivalista.
No entanto, a autarquia atribui também importância a quaisquer estudos que avaliem a possibilidade da aplicação in situ das técnicas outrora usadas, na perspectiva de permitir algum fabrico artesanal de papel para fins didácticos ou mesmo económicos, deixando em aberto “soluções criativas” que envolvam estabelecimentos de ensino e empresas interessadas numa componente comercial: nesse caso, a iniciativa possibilitava até a recuperação do projecto de uma fábrica – escola, que chegou a ser pensada para o local pelo arcebispo de Braga, D. Frei Caetano Brandão, em finais do século XVIII (na época, o prelado enfrentou muitas resistências à aplicação do seu projecto por parte dos terra – tenentes de Braga, ligados a uma aristocracia acomodada e inoperante).
O recurso à força motriz da água apenas será possível com os maiores caudais do rio Este, durante o Inverno, mas os modernos sistemas eléctricos de moagem podem compensar as falhas sazonais dessa “energia” natural e viabilizar assim a aplicação das antigas técnicas ao longo do ano: este método artesanal de fabrico de papel não causa quaisquer problemas de poluição (no século XVIII, os agricultores com terrenos cultivados junto ao rio Este apenas se queixavam da poluição com origem no fabrico dos chapéus em S. Lázaro e S. Victor, por causa das lavagens)
A requalificação vai incluir a revitalização da zona histórica dos Galos, situada na margem direita do rio Este, mas onde estiveram instaladas, no século XVI, algumas das oficinas de fabricação de papel, referenciadas pelos estudos do professor Aurélio de Oliveira, que permitiram revelar muitos aspectos inéditos sobre aquela antiga indústria em S. Lázaro.
O ante – projecto da requalificação, apresentado já há alguns anos pela Câmara, previa a recuperação de algumas casas antigas dos Galos: desconhece – se, por enquanto, o tipo de utilização a atribuir ao casario a recuperar, após a requalificação do espaço ribeirinho. Sabe – se que o processo aguarda parecer sobre impacto ambiental. No entanto, a Junta de S. Lázaro insiste na necessidade da sua reutilização como espaços de dinamização da vida cultural e cívica, mas que tenham também em conta as iniciativas da freguesia, por ser uma zona nobre. Pedro Leitão (SNL- Serviço de Notícias Locais /edição jornal Frontera Notícias)
p.s caso haja interesse em conhecer a história do fabrico de papel a partir dos trapos em Braga, comuniquem – nos para o envio dos textos que temos elaborados sobre o tema
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